O câncer é atualmente a segunda causa de mortalidade no mundo(1), diante desse fato são realizados pesquisas visando à prevenção e o seu tratamento. Partindo do pressuposto que o câncer é uma doença sistêmica há uma necessidade de buscarmos além do tratamento oncológico, oferecer um suporte emocional tanto para o paciente quanto para a família. Defrontar-se com paciente oncológico exige uma reformulação de condutas exercidas pelos seus membros familiares. Uma vez que, a doença apresenta-se de fato, como um acontecimento impactante que pode ameaçar, modificar ou transformar totalmente, e por vezes, de forma irreversível, a vida pessoal e coletiva das pessoas da família principalmente em momentos como: comunicação diagnóstica, processo de hospitalização, intercorrências, recidivas da doença e outros - período estes que no seu conjunto tem sido chamado, na literatura, de "a jornada do câncer". Além disso, o impacto provocado na família pela situação da doença depende, o fato da doença ser de curta duração ou evolução progressiva, gerando uma crescente tensão no que se refere à exaustão e ao acúmulo de tarefas. Desse modo, instala-se um círculo vicioso; ao afetar o paciente, o câncer afeta a família, que por sua vez, ao ser afetada influencia na reabilitação do paciente.
Neste contexto, surge o cuidador principal, pessoa responsável por auxiliar o paciente dependente no seu dia-a dia, entre outras tarefas, e, em geral, o cuidador é proveniente do próprio núcleo familiar.
Em um estudo de famílias de pacientes oncológicos(2) foi percebido que a escolha do cuidador não costuma ser ao acaso e que a opção pelos cuidadores nem sempre é do cuidador, mas, muitas vezes, expressão de um desejo do próprio paciente. Em geral, o cuidador passa a assumir múltiplas funções, tornando-se o cuidador único, eventualmente, auxiliado em tarefas menores por outros membros da família. Logo, seu múltiplo desempenho passa a ter reflexos em sua vida, que se manifestam através de sinais e sintomas físicos e psíquicos(3,7,8).
Na literatura alguns estudos confirmam essa sobrecarga que o cuidador possui com sua estafante e estressante atividade de cuidados diários e ininterruptos. Talvez este seja um dos aspectos mais bem registrados com relação ao cuidador familiar, tanto no campo oncológico, quanto em outros campos dos cuidados em longo prazo. Há um número significativo de trabalhos relacionando a deterioração da saúde e adoecimento do cuidador, com uma maior carga de estresse(6,8,9); perda do emprego, e perda do poder aquisitivo para a família com o passar do tempo(6,9). Em relação ao comprometimento psicossocial na vida do cuidador, há numerosos estudos que identificaram casos de depressão(4,3,7)onde há principalmente dependência crescente do paciente e a presença de sintomas não controlados , distúrbios do sono(2), medo, maior uso de psicotrópicos(7), ruptura de vínculos, isolamento, solidão, diminuição da participação social (5,7)(, menos satisfação com a vida(10). Todos esses estudos denotam e confirmam a real necessidade da dinâmica familiar também ser considerada objeto de interesse da psico-oncologia, que por sua vez, visa promover a saúde mental da mesma contribuindo assim, para o restabelecimento e a preservação do equilíbrio bio-psico-social de quem cuida, envolvendo de forma sistêmica aquele que é cuidado.
* Por Dra. Renata Schittini – Artigo publicado na Revista Periódico Científico Mai/09
Referências bibliográficas:
1. Estimativa 2008: incidência de câncer no Brasil. Disponível em http//www.inca.gov.br
2. WENNMAN-LARSEN, A.; TISHELMAN, C. Advanced home care for cancer patients at the end of life: a qualitative study of hopes and expectations of family caregivers. Scandinavian Journal of Caring Sciences, Sweden, v. 16, n. 3, p. 240-247, 2002.
3. Kurtz ME, Kurtz JC, Given CW, Given B. Relationship of caregiver reactions and depression to cancer patients symptons,functional states and depression a longitudional view. Soc SciMed 1995; 40(6): 837-46.
4.Thomas C, Morris M. Informal cares in cancer contexts .Eur J Cancer Care 2002; 11:178-82.
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6.Covinsky KE, Goldman L, Cook F, Oye R, Desbiens N, Reding D, Fulkerson MD, et al. The impact of serious illness on patients' families.
7 JAMA 1994; 272 (23): 1839-44. Emanuel EJ, Fairclough DL, Slutsman J, Alperth H, Ballawin D, Emanuel LL. Assitance from family members, friends, paid givers,and volunteers in the care of terminally patients
8 Neri AL, Carvalho VAML. O bem-estar do Cuidador: aspectos psicossociais. In: Freitas EV, Py L, Neri AL, Cançado FAX, Gorzoni ML, Rocha SM. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan; 2002. p. 778-90.
9 Schachter S. Quality of life for families in the management of home care patients with advanced cancer. J Palliative Care 1992; 8(3): 61-6.
10 Schulz R, Beach SR, Lind B, Martire LM, Zdaniuk B, Hirsch C,Jackson S, Burton L. Involvement in caregiving and adjustment to death of a spouse: findings from the caregiver Health Effects Study. JAMA 2001; 285(24): 3123-9.